A dificuldade em dizer “não”, a necessidade constante de agradar e o esforço para evitar conflitos a todo custo são características da chamada “síndrome da boazinha”, um comportamento que pode prejudicar a saúde emocional de quem o vivencia.
Recentemente, ao abrir uma caixa de perguntas no Instagram, recebi a seguinte questão: “Mari, você tem a síndrome da boazinha?”. Esse questionamento me fez pesquisar sobre o termo e descobrir que ele foi cunhado por uma psicóloga para descrever pessoas que têm uma necessidade exagerada de agradar a todos ao seu redor. Essas pessoas enfrentam uma série de desafios, como a dificuldade em dizer “não”, o desejo constante de manter todos felizes, e uma tendência a evitar conflitos a qualquer custo. Ao me deparar com essa descrição, percebi que me encaixo perfeitamente nela.
À primeira vista, pode parecer positivo ser uma pessoa “boazinha”, mas, na realidade, esse comportamento é desgastante para quem o adota. A busca incessante pela aprovação dos outros significa, muitas vezes, que a felicidade pessoal está subordinada à validação externa. Em outras palavras, para sentir-se bem, é necessário ser sempre gentil, compreensivo e generoso, procurando agradar a todos, menos a si mesmo. Essa dinâmica é movida, principalmente, pelo medo da rejeição.
Falando por experiência própria, tenho 35 anos e não consigo contar quantas vezes evitei expressar minha opinião ou defender um ponto de vista, simplesmente para não causar atritos. Apenas a ideia de um possível conflito — que, muitas vezes, nem chegaria a ocorrer — já me causava um desconforto enorme. Além disso, até presenciar discussões alheias me deixava desconfortável, mesmo sem ter qualquer envolvimento direto na situação. É intrigante como algo tão banal pode nos afetar tão profundamente.
Por anos, fugi de situações de confronto, até que, através de muitas sessões de terapia, percebi o quanto esse comportamento era prejudicial para mim. A fama de “boazinha”, que por tanto tempo considerei uma virtude, revelou-se uma máscara para esconder uma insegurança profunda, que eu só poderia superar se recebesse aprovação de outras pessoas. Foi um processo longo e desafiador, mas aos poucos comecei a entender que a aprovação mais importante deveria vir de mim mesma. E, para alcançar isso, era essencial aprender a estabelecer limites claros em minhas relações pessoais — algo que se mostrou extremamente difícil.
Aprender a dizer “não” depois de uma vida inteira dizendo “sim” foi, e ainda é, um grande desafio. Quando o fiz pela primeira vez, senti-me uma pessoa terrível. A culpa por priorizar minhas próprias necessidades foi avassaladora. Fiquei preocupada com a possibilidade de que aquela pessoa nunca mais quisesse falar comigo. Foi então que me deparei com uma frase na internet que dizia: “Só se incomoda com seus limites quem sempre se beneficiou deles”. Essa frase fez todo o sentido para mim. Reflita sobre isso: a vida inteira você se desdobrou para atender às expectativas dos outros, sacrificando sua própria felicidade para garantir a deles. De repente, você começa a se posicionar e a priorizar a si mesma. As pessoas que sempre estiveram no centro de suas atenções são relegadas ao segundo plano e perdem todos os privilégios que desfrutaram por tanto tempo. Não é de se estranhar que isso cause estranhamento.
Com o tempo, comecei a perceber que não há nada de errado em estabelecer limites. É impossível passar pela vida sem desagradar alguém ou sem se posicionar. A ideia de que é possível “agradar a todos” é irreal e, frequentemente, leva a pessoa a anular seus próprios desejos e necessidades. Embora eu tenha compreendido essa lógica em teoria, a prática ainda é um desafio diário. Continuo fazendo terapia e trabalhando em mim mesma para encontrar um equilíbrio saudável — um ponto onde posso considerar a opinião e a felicidade dos outros sem, no entanto, sacrificar a minha própria.
Essa é a minha experiência com a síndrome da boazinha. Espero que este texto tenha proporcionado alguma reflexão sobre o tema. E se não gostou, tudo bem também. Afinal, nem sempre é possível agradar a todos.
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