Discute-se muito hoje em dia sobre a tecnologia nas profissões. Não seria diferente na Arquitetura! Mas vamos lá, será que a tecnologia tira o brilho de um bom projeto arquitetônico? Acho que não!
A arte enlatada vem desde muito tempo… Nos idos dos meus 50 anos, vi e vivi muita coisa – Imagine que ia demorar tanto para eu usar essa frase! Mas é verdade, chegando ao meio século, labuto com a tecnologia desde a adolescência, quando ganhei de presente de um amigo um utensílio para lá de tecnológico: Uma agenda eletrônica de 64kb! Sim aquelas da Cassio que você conseguia salvar os números do celular e até mesmo o aniversário dos seus contatos… Sim isso era uma quebra de paradigma!
Lembro também quando estava na Faculdade de Arquitetura, arranjei um estágio na área de TI, sim de Tecnologia da Informação, com rede de computadores, com servidor e tudo mais. Por isso tinha que usar um BIP, aquele que os médicos usavam para serem encontrados. Achava o máximo andar com aquilo pendurado na cintura, quando chegava uma mensagem, tinha que correr para um orelhão pra ligar.
Nessa época eu já estava usando meu potente 386 com coprocessador aritmético que meu pai tinha comprado. Para quem sabe o que quero dizer, conseguimos colocar uma placa de vídeo de 64kb e um HD de 40MB, sim, megabites! Ainda faltava um tempo para os Gigabytes chegarem nas mesas comuns. Tinha esquecido, antes desse, tivemos um DGT 1000 com Floppy disk de 720Bytes e logo depois um de 1,44kb.
Peço desculpas pelos termos técnicos, mas quem tem familiaridade com esses termos, deve estar saudosista ou rindo muito, talvez os dois juntos! Aí veio o ápice, cheguei no topo da tecnologia, lá em 1992, quase tive um problema de coluna, pois carregava um Motorola PT550 na cintura! Lembro de meu pai me perguntando a necessidade daquilo… E eu te disse que todo mundo ia ter um troço desses um dia.
Mas eu estava falando da “arte enlatada” … Quem se lembra dos clipparts, aqueles desenhos, que vinham prontos no Corel? Muito profissional da área de criação sofreu, pois, todo mundo passou a ter um filho(a), sobrinho(a) que virou um artista gráfico. Mas nem por isso a profissão foi extinta.
Temos a internet, os algoritmos, e a promessa de que em breve teremos na internet tudo que precisaremos, a quem diga que a profissão do advogado vai acabar… Que vão achar as peças jurídicas prontas na internet, como verdadeiros robôs advogados. Será?
Não posso negar que a enxurrada de conhecimento que encontramos na internet de alguma maneira nos alimenta e nos tira um pouco da condição de completo leigo em alguns assuntos, mas temos que tomar cuidado pois, saber o que é, e saber como é, são coisas completamente diferentes.
A internet nos mostra uma variedade de coisas tão grande, nos apresenta coisas que nunca tivemos acesso antes, nem tão rápido. Hoje conhecemos um lugar sem nunca ter ido, mas não sabemos, ou melhor, não sentimos na pele a temperatura, nem o cheiro das ruas daquele lugar lindo da foto.
Falando da Arquitetura! Quando entrei no curso, era lápis, Nankin, régua T e prancheta. Também tinha o desejo pela tecnologia naquela época, eram aquelas mesas cheias de mola que subiam e desciam e uma régua paralela com transferidor e uma aranha e penas Leroy.
Aí os softwares CAD tomaram o lugar da prancheta, mas eram e ainda são usados como prancheta digital, poucos usavam os recursos disponíveis, as rotinas de programação disponíveis, para automatizar alguns processos, muito arquiteto não quis saber, e alguns até hoje não querem.
Poderíamos simplesmente dizer que esses softwares foram evoluindo…. Mas na verdade, os usuários, os profissionais é que começaram a usar os recursos que já existiam, começaram a escrever rotinas, a trabalhar em 3 dimensões, e paralelamente esses programas foram evoluindo, e outros players entraram no mercado.
A modelagem tridimensional ganhou espaço, os estudos volumétricos evoluíram com os recursos dos novos apps. As apresentações ganharam cores mais realistas, ganharam “vida”, ficaram animadas e cada vez mais precisas.
Em 2004 escrevi a minha dissertação de Mestrado falando da utilização dos softwares CAD, da necessidade dos escritórios se adaptarem a essa tecnologia. Dando um salto de quase 20 anos depois, mais precisamente de 24 anos, desde formado, temos hoje estações gráficas poderosas, e softwares incríveis à nossa disposição… A evolução do projeto, na arquitetura ou na engenharia, em ambas as disciplinas, tem grandes aliados na atualidade. Inúmeros recursos auxiliam no projeto e na execução do mesmo.
Estamos no auge da tecnologia, fazer um projeto hoje sem um computador, virou uma tarefa praticamente impossível. Na pior das hipóteses, um CAD básico substitui as antigas penas Nankin. Se considerarmos que passamos por uma revolução quando saímos do Nankin para o CAD, estamos passando por uma segunda revolução na transição para a metodologia BIM!
A grande maioria dos profissionais ainda não entrou no universo BIM, mesmo sabendo que é um caminho sem volta. A utilização dos modeladores 3D BIM está ganhando espaço, mas ainda falta muito chão para podermos dizer que a tecnologia BIM se tornou o padrão. Dentre as principais dificuldades, é a incursão das demais disciplinas; estruturais, projetos complementares, entre outras.
Em paralelo, a evolução da Inteligência Artificial, da utilização de algoritmos no processo do projeto, o design computacional vem ganhando espaço. A utilização de linguagem de programação ajuda na criação de projetos cada vez mais complexos e orgânicos, impossíveis de serem realizados sem tais recursos.
A exemplo podemos citar grandes nomes da Arquitetura que lançam mão dessas tecnologias em seus projetos: a arquiteta iraquiana-britânica Zaha Hadid; o dinamarquês Bjarke Ingels; o arquiteto americano Greg Lynn; a israelense Neri Oxman e o arquiteto francês Marc Fornes. Estes são apenas alguns exemplos de arquitetos que estão utilizando programação e algoritmos em seus projetos.
O Design generativo consiste em um método em que o objetivo é gerado por meio do uso de algoritmos, baseado em parâmetros de modelagem, para explorar novas possibilidades de desenho e projeto. O design degenerativo foi pensado a partir do processo de formação de desenhos na natureza.
Assim, o processo apresenta uma radical mudança na construção civil tradicional. No método habitual, temos o profissional, engenheiro ou arquiteto, responsável por toda a concepção de um projeto. Além disso, esta figura fica responsável pelas perspectivas e plantas técnicas. Já com o design generativo, o processo é feito de forma integrada. Isso altera a forma de relacionamento de engenheiro e arquiteto com a tecnologia. Passam a dividir a autoria de suas obras com a inteligência artificial, aproveitando o potencial de concepção dos projetos e de seus respectivos profissionais responsáveis.
- Economia de tempo na elaboração de projetos – redução do tempo gasto com a automatização da concepção do projeto;
- Aumento da originalidade dos projetos – A inteligência artificial contribui no processo e cria inúmeras possibilidades, potencializando a criatividade do profissional;
- Novas possibilidades
- Sustentabilidade
Mas qual a relação do design generativo e o BIM?
Esse termo tão discutido atualmente no mundo da arquitetura e da engenharia, o BIM (Building Information Modeling) é a metodologia que consegue usar o Design Generativo como instrumento de projeto. Além disso, o BIM interfere na construção de forma global, incluindo planejamento, orçamento, vida útil da construção, etc.
O design generativo e a inteligência artificial se conectam por meio do projeto paramétrico e as determinações inseridas pelo profissional projetista. É quando ocorre a união do raciocínio da máquina e ao pensamento humano. A tecnologia do design generativo pode ser comparado com a natureza e permite que se elucide vários pontos a partir de paralelos que podem ser traçados, por exemplo: os galhos de uma arvore, que tem um tronco e seus galhos que se sustentam e se mantem firmes. Estamos falando de um “projeto” intuitivo, feito pela natureza, e eficiente. Se a região tiver mais vento, esta árvore teria características diferentes para suportar essas intempéries.
Desta forma, concluímos que o design generativo é uma excelente estratégia para aumentar a criatividade e eficiência de projetos. Entretanto é muito importante observar que a sua utilização não anula o valor dos projetistas. Muito pelo contrário, a tecnologia só se torna uma aliada quando é conduzida por bons profissionais.
E é essa criatividade, conduzida por esses profissionais, os designers computacionais, que está fazendo surgir projetos extremamente complexos, mais orgânicos, belas obras. A parametrização, a automação dos processos através da programação estão revolucionando mais uma vez a forma de projetar!
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Abaixo, algumas obras conhecidas mundialmente que foram projetadas com design generativo:
Fotos: Divulgação