Região sofrendo com desmatamento, garimpo ilegal e grilagem de terras
No Dia da Amazônia, organizações ecoam um chamado urgente para a preservação desse ecossistema vital, que enfrenta ameaças constantes de desmatamento, garimpo ilegal e grilagem de terras. A Amazônia, a maior floresta tropical do mundo, é o centro de atenção nesta terça-feira (5) enquanto ativistas, ambientalistas e defensores dos direitos indígenas destacam a necessidade de ações imediatas.
Com uma extensão aproximada de 421 milhões de hectares, a Amazônia representa um terço de todas as florestas tropicais do mundo. Além de seu valor intrínseco como biodiversidade única, a região desempenha um papel crucial nos processos climáticos globais, contribuindo para a evaporação, transpiração da floresta e a manutenção dos estoques de água doce. A Amazônia abriga também mais da metade da biodiversidade do planeta.
No entanto, dados alarmantes do Sistema de Avaliação do Risco de Extinção da Biodiversidade (Salve), do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), revelam que 224 espécies da fauna amazônica enfrentam ameaças significativas, com pelo menos uma espécie já extinta. Entre essas espécies, 139 estão classificadas como “vulneráveis”, 48 como “em perigo” e 38 como “criticamente em perigo”.
Animais emblemáticos como o peixe-boi-da-amazônia, tamanduá-bandeira, onça-pintada, ararajuba e a anta estão entre aqueles classificados como “vulneráveis”. Espécies de peixes, como o Acari, estão em estado “criticamente em perigo”.
Toya Manchineri, coordenador-geral das Organizações Indígenas da Amazônia (Coiab), enfatiza que o Dia da Amazônia é um momento de luta e reflexão, pois o desmatamento, o garimpo ilegal e as ameaças aos povos indígenas persistem sob o governo de Jair Bolsonaro. Ele afirma: “É um dia especial de luta e que não tem nada para comemorar… O dia 5 é para fazermos uma reflexão sobre como podemos parar com esses assassinatos e a perseguição aos povos que vivem na floresta. Então, é um momento de reflexão e não de comemoração.”
Adriana Ramos, assessora de política e direito socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), também sublinha que, apesar da recente queda no desmatamento nos primeiros sete meses do ano, ainda há desafios significativos a serem superados. Os dados do governo federal indicam uma redução de 42% no desmatamento da Amazônia nesse período, com uma queda de 66% em julho, e a expectativa de que agosto tenha mantido um patamar similar.
Adriana destaca a crescente influência do crime organizado na região e a necessidade de políticas voltadas para as populações locais, afirmando: “É preciso reconhecer que a violência e o crime organizado cresceram muito na região… Ao mesmo tempo, há muitas ameaças aos territórios tradicionais, às terras indígenas e às unidades de conservação que precisam ser enfrentadas.”
Outra preocupação significativa é o avanço de grandes projetos de infraestrutura na região, como a pavimentação da BR-319 e a estrada do Pacífico. Para Adriana, esses projetos podem intensificar o desmatamento ao aumentar a circulação de grileiros e madeireiros ilegais, sem trazer benefícios substanciais para os moradores locais.

Especialistas alertam que, com a continuidade desses projetos, aliados ao desmatamento, garimpo ilegal e grilagem de terras, a Amazônia pode chegar a um ponto de não retorno, no qual perde sua capacidade de se regenerar, devido ao desmatamento, degradação e aquecimento global, caminhando em direção à desertificação.
Toya Manchineri enfatiza que esses projetos não são desenvolvidos em parceria com as populações locais, e a monocultura é citada como uma atividade de grande impacto no desmatamento e nos conflitos agrários na Amazônia.
Ele declara: “Os projetos econômicos levam muitas complicações para os povos indígenas… são projetos de garimpo e de monocultura que acabam com a floresta.”
Toya também critica a possível aprovação da tese do marco temporal para a demarcação de terras indígenas, alertando que isso intensificará as ameaças aos povos indígenas e resultará na perda de direitos.
O ISA argumenta que a aprovação do marco temporal pelo Supremo Tribunal Federal distorce a interpretação da Constituição Federal e pode alimentar a “indústria da grilagem de terras”, enfatizando que os povos indígenas e tradicionais desempenham um papel fundamental na manutenção da floresta.
Para chamar a atenção para a defesa da Amazônia, cinco cidades brasileiras estão realizando festivais culturais e artísticos, como parte do Festivais Dia da Amazônia. Essa mobilização inclui protestos contra a tese do marco temporal e uma série de atividades educacionais e culturais em todo o país, destacando a importância da proteção e valorização da Amazônia.
Uma das iniciativas deste ano é a coleta de 1,5 milhão de assinaturas de cidadãos brasileiros com título de eleitor válido para apoiar o Projeto de Lei de Iniciativa Popular (Plip), que visa destinar 57 milhões de hectares de terras públicas não destinadas para a preservação e uso sustentável, fortalecendo assim a conservação da Amazônia pelos povos tradicionais que a habitam.

Floresta amazônica vista de cima. – Divulgação TV Brasil
Fonte: Agência Brasil