Com 8.479 votos, a marisqueira do Quilombo Porto dos Cavalos assume cargo na Câmara Municipal e promete combater o racismo ambiental na capital baiana
No último domingo (6), a cidade de Salvador fez história com a eleição de Eliete Paraguassu (Psol), a primeira vereadora quilombola a assumir um cargo na Câmara Municipal. A ambientalista, oriunda do Quilombo Porto dos Cavalos, localizado na Ilha de Maré, conquistou 8.479 votos, integrando agora o grupo de 43 parlamentares que tomarão posse em 2025. Com uma forte agenda voltada para a luta antirracista e ambiental, Eliete fará parte da bancada de oposição ao prefeito Bruno Reis, trazendo uma nova perspectiva para as questões sociais e ambientais da capital baiana.
Um marco na representação política
Eliete, que se autodenomina a “mulher das águas”, expressou que sua eleição representa a quebra de uma barreira, ressaltando a importância do combate ao racismo ambiental, uma das bandeiras centrais de sua campanha. “Sou pescadora, defensora do mangue e do meio-ambiente. O maior ganho foi conquistar essa cadeira representando o povo das águas, os trabalhadores das águas e os povos quilombolas. Mesmo sabendo que vou trabalhar para Salvador, a cidade mais negra fora da África, que me acolheu com tudo que eu carrego. Eu carrego história, não carrego diploma. Eu carrego marcas de lutas sociais”, afirmou Eliete.
Umeru Bahia, doutor em Ciências Sociais pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), destaca que a eleição de Eliete pode ser uma estratégia fundamental para a defesa das populações que enfrentam as consequências do racismo ambiental. “A importância de termos uma parlamentar eleita de origem quilombola é aumentar as possibilidades de evitar mais violações sobre as populações vulnerabilizadas”, opina o sociólogo.
Combatendo o racismo ambiental
Eliete Paraguassu tem se destacado na luta contra a desigualdade socioambiental, um tema que se torna cada vez mais urgente na sociedade contemporânea. O racismo ambiental, como explicado por Umeru Bahia, é caracterizado por ações que afetam desproporcionalmente as comunidades marginalizadas. “É racismo porque há uma violência contra uma etnia e é ambiental porque são violações no campo do ambiente, sobre o território”, definiu.
A nova vereadora ganhou notoriedade após alertar para a situação crítica da Ilha de Maré, majoritariamente habitada por pescadores que enfrentam problemas graves de saúde, como taxas alarmantes de câncer, devido à proximidade com grandes indústrias. “A gente pautava questões que traziam processos de morte no território”, destacou Eliete. A contaminação da água da região por metais pesados, resultante das atividades industriais, também é uma preocupação expressa pela vereadora.
De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal da Bahia (Ufba), a maioria das crianças da Ilha de Maré apresentava níveis de metais pesados acima do aceitável, incluindo sua própria filha, Diana Conceição, que foi afetada pela contaminação.
Trajetória e compromisso social
Eliete iniciou sua trajetória na política partidária em 2020, quando atuou como suplente para a vereança em Salvador. Posteriormente, assumiu o cargo de coordenadora-geral de Assistência Técnica e Extensão Pesqueira no Ministério da Pesca durante o governo Lula, antes de retornar à Bahia e ser eleita em 2024. Natural da Ilha de Maré, Eliete é filha do pescador Daniel Conceição e da marisqueira Zenilda Paraguassu, e é mãe de dois filhos, Diana e Diego Conceição.
Com sua posse na Câmara Municipal, Eliete Paraguassu não só faz história, mas também traz uma nova esperança e voz para os desafios enfrentados pelas comunidades quilombolas e pelo meio ambiente na Bahia. Seu trabalho será crucial na luta por políticas que respeitem e protejam os direitos dos mais vulneráveis, reforçando a necessidade de um olhar atento e justo sobre as questões sociais e ambientais.

Foto: Reprodução/Redes Sociais