Durante o ciclo de infecção pelo vírus HIV, que causa a aids, existe uma fase crucial conhecida como latência, na qual o vírus permanece incubado no organismo. Nesse período, a pessoa infectada pode passar vários anos sem sintomas, enquanto o vírus se esconde em células imunológicas “dormentes”.
Infelizmente, ainda não existem terapias eficazes capazes de eliminar o HIV latente. Se o tratamento antirretroviral for interrompido, o vírus pode sair da latência e progredir para o desenvolvimento da Síndrome da Imunodeficiência Humana (aids).
Um novo estudo realizado por pesquisadores do Centro de Cura do HIV das renomadas universidades americanas da Carolina do Norte, Emory e da Pensilvânia trouxe uma luz sobre o comportamento dessas células imunes “dormentes”. Publicado no Journal of Clinical Investigations, o estudo revela detalhes fascinantes sobre o vírus HIV e seu impacto no sistema imunológico.
O HIV é um vírus complexo de ser estudado, pois ataca diretamente os linfócitos CD4+, também conhecidos como linfócitos T, que desempenham um papel essencial na resposta imunológica. Essas células são responsáveis por identificar proteínas virais e ativar a defesa do organismo contra patógenos e anticorpos. Ao longo do tempo, o HIV acaba matando um número significativo de células CD4+ e comprometendo o sistema imunológico.
Estudos anteriores já haviam revelado que o vírus é capaz de se esconder e permanecer latente dentro de linfócitos sobreviventes, tanto em certos órgãos quanto na corrente sanguínea. Além disso, foi descoberto que, em pessoas soropositivas que recebem tratamento antirretroviral, o vírus permanece no sistema nervoso central (SNC).
No novo estudo, os pesquisadores concentraram seus esforços no estudo do cérebro de macacos infectados com o vírus da imunodeficiência símia (SIV), muito semelhante ao HIV. Eles buscaram entender como extrair e purificar células viáveis do tecido cerebral e isolaram células mieloides cerebrais altamente puras, que são conhecidas por serem reservatórios virais estáveis para o HIV latente.
Além disso, amostras cerebrais doadas por indivíduos soropositivos foram analisadas, graças à iniciativa The Last Gift da Universidade da Califórnia em San Diego, na qual pessoas generosas decidiram doar seus órgãos para a ciência.
Os resultados foram empolgantes! A equipe de pesquisa confirmou que as células microgliais, com uma vida útil média de uma década, podem servir como um reservatório viral estável para o HIV latente. Essa descoberta abre novas perspectivas para estudos futuros sobre os reservatórios do sistema nervoso central e para os esforços de erradicação do HIV.
Com base nesses achados, os pesquisadores estão agora planejando estratégias para atingir especificamente esse tipo de reservatório viral no cérebro. Eles acreditam que o HIV latente no cérebro apresenta características radicalmente diferentes do vírus em outras áreas do organismo, e que o microrganismo se adaptou para se replicar nesse ambiente.
“Com o tempo, o HIV evoluiu desenvolvendo controle epigenético sobre sua expressão, silenciando o vírus para se esconder no cérebro e escapar da resposta imunológica. Estamos apenas começando a desvendar o mecanismo único que permite a latência do HIV nas células microgliais cerebrais”, destaca Guochun Jiang, autor sênior do estudo.
Esse avanço científico nos aproxima cada vez mais do entendimento completo do HIV e nos dá esperança de um futuro livre dessa doença. Vamos continuar apoiando a pesquisa e trabalhando juntos para vencer essa batalha contra o HIV!

Foto: Tang et al