A exposição é um convite para conhecer uma artista que viveu como criou: fora das molduras, mas mergulhada em uma estética própria e intransferível.
Foi inaugurada essa semana, na Aliança Francesa de Salvador, a exposição “Emma Valle na coleção de Dimitri Ganzelevitch”, uma imersão no universo singular de uma das artistas mais instigantes da arte baiana. A mostra, com curadoria do próprio Ganzelevitch, reúne cerca de 40 obras da enigmática criadora — entre telas, objetos entalhados, talhas, azulejos, utensílios domésticos e suportes inusitados — revelando a potência criativa de uma mulher que transformou o cotidiano em delírio e matéria poética. Mais do que uma retrospectiva, a exposição é uma redescoberta. Vinte e cinco anos após sua morte, Emma Valle tem despertado o interesse de críticos, pesquisadores e colecionadores.
Nascida e falecida em Salvador, Emma viveu à margem dos circuitos tradicionais, tornando-se uma das maiores expressões locais da chamada Arte Fora das Normas. Sua produção se insere na linhagem de criadores como os da Art Brut, definida por Jean Dubuffet, e dos pacientes de Nise da Silveira — porém com um tempero tropical, urbano e afrobarroco.
Emma Valle não pintava quadros: ela narrava mundos. Suas obras vinham acompanhadas de títulos longos, assinaturas múltiplas e datas obsessivamente grafadas. Não raro, ela incluía até o preço diretamente na pintura. “Meus quadros duram séculos, como os de Miguel Ângelo”, costumava dizer. Seu ateliê foi o Cartola Internacional, uma pensão na Ladeira de Santa Teresa, onde conviveu e trocou experiências com artistas como Reinaldo Eckenberger, sem formar um coletivo, mas compartilhando a mesma atmosfera de liberdade radical.
SERVIÇO
Exposição: “Emma Valle na coleção de Dimitri Ganzelevitch”
Aliança Francesa de Salvador
Visitação: até 1º de junho
Horários: segunda a sexta, das 8h às 21h; sábado, das 8h30 às 12h30
Entrada gratuita
