Levantamento do Instituto de Segurança Pública revela números alarmantes e aponta para subnotificação.
No ano de 2023, as delegacias do estado do Rio de Janeiro documentaram aproximadamente 3 mil crimes potencialmente vinculados à intolerância religiosa, conforme revela um levantamento inédito realizado pelo Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP). Entre esses casos, 2.021 foram vítimas de injúria por preconceito e 890 por preconceito relacionado a raça, cor, religião, etnia e procedência nacional.
Contudo, o dado que chama atenção é que apenas 34 vítimas registraram o crime em uma delegacia. O babalaô Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR), destaca o descrédito em relação à transformação dos registros em inquéritos como um fator que contribui para a baixa procura.
O perfil das vítimas indica que mulheres e negros são os mais afetados, com a maioria dos crimes concentrados na zona oeste da capital, especialmente na região da 35ª Delegacia de Polícia em Campo Grande. A região da Baixada Fluminense, Maricá e Campos dos Goytacazes também registram casos significativos.
O ISP divulgou os números no Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, buscando promover o diálogo e destacar que a intolerância religiosa é crime, com mecanismos de denúncia disponíveis.
A diretora-presidente do ISP, Marcela Ortiz, enfatiza a importância dessas informações para conscientizar a sociedade sobre a gravidade da intolerância religiosa e preconceito, ressaltando a existência da Decradi (Delegacia de Crimes Raciais e Delitos de Intolerância) como uma unidade especializada para o registro desses crimes.
A delegada Rita Salim, titular da Decradi, afirma que combater a intolerância religiosa depende da conscientização da sociedade sobre a importância de respeitar a diversidade de crenças. Salim destaca que a Polícia Civil está preparada para receber denúncias e confeccionar registros de ocorrência.
O babalaô Ivanir dos Santos propõe a instalação de mais unidades da Decradi para ampliar o combate à intolerância religiosa. Ele destaca a necessidade de políticas públicas baseadas em dados para lidar com esse problema crescente. Além disso, Santos reivindica maior envolvimento do Ministério Público e da Defensoria Pública.
A questão da educação também é abordada, com Santos criticando a má interpretação da Lei 10.639, que visa o ensino de história e cultura afro-brasileira. Ele destaca a importância de construir uma política de respeito à diversidade religiosa.
Foto: Reprodução/ Agência Senado
Fonte: Agência Brasil