Pesquisadores brasileiros criam algoritmos de inteligência artificial (IA) capazes de analisar exames de sangue de rotina e contribuir para a detecção precoce do câncer de mama. A responsável pelo desenvolvimento dessa ferramenta é a doutoranda Daniella Castro Araújo, do Programa de Pós-graduação em Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Essa tecnologia é uma aplicação de grupos de pesquisa da universidade que utilizam analitos, componentes presentes nas Amostras de sangue, para auxiliar no diagnóstico de diversas doenças, como Alzheimer e Covid-19. Segundo a pesquisadora, a ferramenta tem potencial para transformar a abordagem de risco de câncer, passando de uma perspectiva populacional para uma personalizada.
De acordo com Araújo, a inteligência artificial foi empregada na interpretação de exames de sangue de rotina. Devido à complexidade das complicações entre os marcadores sanguíneos, é inviável realizar uma análise linear simples para doenças complexas, como o câncer de mama. Portanto, utilize-se a IA para reconhecer padrões em grupos de pacientes com e sem câncer.
A pesquisadora destaca que aproximadamente 80% das mulheres brasileiras não têm acesso à mamografia, um exame essencial para o diagnóstico precoce do câncer de mama, que possui uma taxa de cura de 99%. Com a solução desenvolvida, a intenção é priorizar as mulheres mais expostas aos riscos, otimizando a fila para a realização da mamografia.
Os examinaram bancos de dados de instituições como o Hospital de Amor, em Barretos (SP), e o Grupo Fleury, uma rede de laboratórios com atuação em São Paulo, que reúnem resultados de exames, incluindo mamografias, exames de sangue e biópsias utilizadas para diagnóstico de câncer de mama.
Os pacientes foram divididos em dois grupos: um com diagnóstico de câncer e outro sem. Em seguida, o pesquisador avaliaram exames de sangue realizados até seis meses antes do diagnóstico final.
Segundo Daniella, o modelo construído com base nesses dados apresenta uma taxa de acerto de cerca de 70%, que aumenta para quase 90% quando são considerados outros dados, como históricos clínicos e laudos de outros exames. Ela ressalta que as soluções propostas não implicam em custos adicionais para o Sistema Único de Saúde (SUS) ou para operadoras e planos de saúde, pois se baseiam na melhor utilização dos exames já realizados repetidamente.
A inovação foi patenteada pela Huna, uma empresa que desenvolve soluções de saúde utilizando tecnologia de ponta. A ferramenta será testada por algumas operadoras de saúde, conforme afirma a pesquisadora.
O próximo passo consiste em testar a ferramenta em instituições de saúde parceiras, tanto públicas quanto privadas, para que seja validada no ambiente real. Atualmente, o Hospital de Amor é um grande parceiro nesse sentido, mas a intenção é expandir e ampliar o acesso dessa nova tecnologia aos usuários do SUS, declara Araújo.

Imagem: Yuichiro Chino/Getty Images