Gabrielle Rodrigues, utilizando mandacaru e carnaúba, conquista reconhecimento global por sua inovação em ciência e engenharia.
A jovem estudante brasileira Gabrielle Rodrigues, aluna da Escola de Ensino Médio Luiz Girão, em Maranguape, no Ceará, ganhou destaque internacional ao desenvolver um conservante natural à base de mandacaru e cera de carnaúba, vencendo o 2º lugar na categoria Plant Sciences na Regeneron International Science and Engineering Fair (ISEF), realizada em Los Angeles, nos Estados Unidos. A invenção visa, principalmente, reduzir o desperdício de alimentos, um problema significativo na cadeia produtiva de frutas e hortaliças.
Inspiração na realidade local
Gabrielle desenvolveu seu projeto a partir de uma observação da realidade ao seu redor. Ela notou que, na sua região, havia grandes perdas de produtos agrícolas ao longo da cadeia produtiva, especialmente no pós-colheita. “Eu percebi que havia muita perda ao longo da cadeia, de frutas e de hortaliças”, destacou a estudante. Sob a orientação de seu professor do ensino médio, Carlos Eduardo Oyama, Gabrielle decidiu criar uma solução inovadora que pudesse prolongar a vida útil dos frutos.
A escolha do mandacaru e da carnaúba
Para desenvolver o conservante, Gabrielle baseou sua pesquisa em duas espécies típicas da região nordeste do Brasil: o cactus do mandacaru e a cera de carnaúba. Ela chegou a essas espécies após uma pesquisa no repositório da Universidade Federal do Ceará, onde descobriu o grande potencial de conservação desses materiais. “Eu percebi que elas já eram utilizadas e têm um potencial de conservação muito grande”, explicou a jovem cientista.
O conservante foi testado em tomates, goiabas e maçãs. Os frutos foram revestidos com a forma líquida da solução, e, após diversas tentativas, Gabrielle constatou que o tomate apresentava melhor adaptação ao revestimento, oferecendo resultados significativos na conservação do produto.
Processo simples e eficaz
O método desenvolvido pela estudante é relativamente simples e de fácil execução. O processo consiste em misturar os componentes no liquidificador até obter uma solução homogênea, que é então armazenada na geladeira a 2 ºC por 24 horas. Após esse período, forma-se uma solução trifásica, da qual a fase líquida é utilizada para revestir os frutos. Os testes mostraram que os frutos revestidos podem permanecer em prateleira por até 21 dias, enquanto os frutos sem o revestimento natural duram de seis a nove dias.
A escolha do tomate como fruto principal para o teste não foi por acaso. Gabrielle ressaltou que o tomate sofre grandes perdas ao longo da cadeia produtiva, desde a colheita até chegar à casa do consumidor final, apodrecendo rapidamente. A invenção dela oferece uma alternativa viável para minimizar esse desperdício.
Reconhecimento e trabalho em equipe
Além de seu talento para pesquisa, Gabrielle destacou a importância do trabalho em equipe e da troca de conhecimento para o sucesso de seu projeto. Segundo ela, várias pessoas colaboraram com seu trabalho, incluindo colegas que ajudaram nas práticas laboratoriais, mesmo sem estarem diretamente envolvidos no desenvolvimento da pesquisa. “Inúmeras pessoas me ajudaram durante todo esse processo”, afirmou Gabrielle, ressaltando a importância dessas colaborações.
Prêmios e o futuro da pesquisa
Gabrielle já havia conquistado reconhecimento em outras competições antes de ganhar o prêmio internacional. Ela venceu o 1º lugar na categoria Ciências Agrárias na Feira Brasileira de Ciências e Engenharia (Febrace), promovida pela USP, o que garantiu sua vaga na ISEF 2024, onde conquistou o prestigiado 2º lugar.
Com um futuro promissor, Gabrielle já tem planos claros para continuar sua trajetória científica. A jovem pretende seguir seus estudos em Engenharia de Alimentos na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), onde espera dar continuidade às suas pesquisas e aprofundar ainda mais o desenvolvimento de soluções sustentáveis para a conservação de alimentos.
A inovação de Gabrielle é um exemplo inspirador de como o talento, a determinação e a capacidade de observar os desafios do cotidiano podem resultar em soluções inovadoras, com impacto tanto local quanto global.
Fotos: Arquivo Pessoal/O Povo
