Após nove meses em microgravidade, tripulantes lidam com alterações corporais e iniciam programas de reabilitação.
Após uma estadia de quase nove na Estação Espacial Internacional (EEI), os astronautas Barry “Butch” Wilmore e Sunita “Suni” Williams retornaram à Terra e agora enfrentam o complexo processo de readaptação às condições gravitacionais terrestres há meses. Originalmente planejada para durar apenas oito dias, a missão foi interrompida devido a problemas técnicos na nave Starliner, da Boeing, que impediram o retorno no período previsto.
Transformações Físicas em Ambiente de Microgravidade
A ausência de gravidade na EEI provoca diversas alterações fisiológicas nos astronautas. Uma das mais evidentes é a redistribuição de fluidos corporais, que tendem a se acumular na parte superior do corpo, resultando em rostos inchados e sensação de congestão nasal. Essa mudança pode levar a problemas de visão, como a síndrome neuro-ocular associada ao voo espacial (SANS), que afeta aproximadamente 70% dos astronautas, causando turvação da visão e alterações na estrutura ocular.
Além disso, a microgravidade contribui para a perda de massa muscular e densidade óssea, uma vez que os músculos e ossos não são exigidos como na Terra. Essa atrofia muscular e desmineralização óssea aumentam o risco de lesões após o retorno. O sistema cardiovascular também é afetado, com o coração trabalhando menos intensamente, o que pode levar à diminuição do volume sanguíneo e às alterações na circulação.
Processo de Readaptação à Gravidade Terrestre
De volta à Terra, Wilmore e Williams iniciaram um programa rigoroso de reabilitação supervisionado pela NASA. Desde 2001, a agência espacial implementa protocolos específicos para garantir que os astronautas recuperem sua condição física ideal após longas missões. Esses programas focam na recuperação da força muscular, densidade óssea, equilíbrio e função cardiovascular.
O acompanhamento psicológico também é essencial, pois os astronautas precisam se readaptar emocional e socialmente após um longo período de isolamento. A sensação de umidade constante no nariz, devido à redistribuição de fluidos, e a hipersensibilidade da pele, que faz com que a roupa seja percebida como papel de lixa, são alguns dos desafios enfrentados durante essa fase.
Avanços na Compreensão dos Efeitos da Microgravidade
Estudos contínuos buscam compreender os impactos de estadias prolongadas no espaço sobre o corpo humano. Pesquisas recentes revelam que a maioria dos astronautas experimenta a síndrome de adaptação espacial, caracterizada por sintomas como náuseas, tonturas e desorientação nos primeiros dias em microgravidade. Compreender e mitigar esses efeitos é crucial para o sucesso de futuras missões de longa duração, incluindo possíveis viagens a Marte.
O retorno de Wilmore e Williams oferece uma oportunidade valiosa para os cientistas analisarem os efeitos de uma missão significativamente mais longa do que o planejado inicialmente. As informações coletadas contribuem para aprimorar os protocolos de saúde e segurança dos astronautas em futuras explorações espaciais.