Troca França por Argélia após desavença com federação
Kaylia Nemour, de apenas 17 anos, fez história ao se tornar a primeira africana a conquistar uma medalha olímpica na ginástica artística neste domingo (4). No entanto, essa medalha de ouro por pouco não foi para a França, país onde nasceu e representou até 2021. Nemour decidiu se naturalizar argelina após um conflito com a Federação Francesa de Ginástica.
Nascida em Sainy-Benoît-la-Forêt, a 280 km de Paris, Kaylia é filha de pai argelino e mãe francesa. Desde cedo, destacou-se nas categorias de base, sendo uma das grandes promessas da ginástica francesa para as Olimpíadas.
O problema começou em 2021, quando Nemour foi submetida a cirurgias em ambos os joelhos para tratar uma osteocondrite severa, uma condição que causa inflamação nos ossos e cartilagens, resultando em dores e restrições de movimento. A Federação Francesa de Ginástica culpou o suposto excesso de treinos no clube Avoine Beaumont pela condição de Kaylia.
Em março de 2022, após a recuperação, o médico de Nemour autorizou seu retorno aos treinos, mas a equipe médica da Federação Francesa vetou a volta imediata. Esse desacordo culminou em um conflito, com a federação querendo que Kaylia se juntasse à seleção nacional, enquanto ela preferia continuar treinando em seu clube. A situação resultou na ruptura definitiva com a federação.
Com o rompimento, Nemour recebeu um convite para representar a Argélia. Em julho de 2022, a Federação Internacional de Ginástica (FIG) aprovou a mudança de nacionalidade, mas a Federação Francesa recusou-se a liberá-la. Como resultado, ela teve que cumprir um período de um ano de quarentena antes de poder competir pela nova seleção.
Em 2023, Kaylia estreou pela Argélia e rapidamente fez história ao se tornar vice-campeã mundial nas barras assimétricas, conquistando a primeira medalha de um país africano em campeonatos mundiais de ginástica artística. Durante essa competição, ela executou um movimento inédito que foi batizado com seu sobrenome: um giro nas barras na posição carpada seguido de um voo por cima da barra na posição esticada.
Na final olímpica deste domingo, Nemour enfrentou novamente a chinesa Qiu Qiyuan, campeã mundial, nas barras assimétricas. Desta vez, a argelina superou a adversária, obtendo uma nota final de 15.700 contra 15.500 da chinesa, garantindo a histórica medalha de ouro.
A vitória de Kaylia Nemour não apenas representa um marco significativo para a Argélia, mas também destaca a persistência e determinação da jovem ginasta que superou desafios pessoais e profissionais para alcançar o topo do pódio olímpico.