A nova série da Netflix, Os Quatro da Candelária, estreou na última quinta-feira, 30 de outubro, e já está gerando discussões fervorosas nas redes sociais. A trama gira em torno da vida de quatro sobreviventes da tragédia da Candelária, que marcou o Rio de Janeiro em 1993, quando oito jovens foram brutalmente assassinados e muitos outros ficaram feridos. A série não apenas resgata a memória deste evento trágico, mas também explora as complexidades emocionais e sociais que os sobreviventes enfrentam ao longo de suas vidas.
Enredo e Personagens
A minissérie é composta por quatro episódios, cada um focando em um dos sobreviventes: Jesus, interpretado por Andrei Marques; Douglas, vivido por Samuel Silva; Sete, o personagem de Patrick Congo; e Pipoca, interpretado por Wendy Queiroz. A escolha de contar essas histórias a partir da perspectiva de quem sobreviveu à chacina oferece um olhar único sobre a resiliência humana diante da dor e da injustiça.
Bruno Gagliasso assume o papel de Jorge, um homem casado que se vê envolvido em uma relação amorosa complexa com Sete, um dos jovens que vivia na Candelária. A narrativa do segundo episódio, que se concentra na vida de Sete, destaca o vínculo emocional entre os dois, ao mesmo tempo em que revela os desafios que enfrentam em um contexto social opressivo.
Cenas de Amor e Reflexão
Um dos aspectos mais comentados da série é uma cena de sexo entre os personagens Jorge e Sete, que ocorre em um motel. Essa cena, marcada por sua intensidade e autenticidade, provoca reações diversas entre os espectadores. O momento não apenas ilustra a conexão íntima entre os personagens, mas também evidencia a luta de Sete por aceitação e amor em um mundo que frequentemente marginaliza identidades LGBTQIA+.
A repercussão dessa cena nas redes sociais é um indicativo de como a representação de relacionamentos homossexuais na mídia ainda provoca tanto entusiasmo quanto polêmica. Em um país como o Brasil, onde a homofobia é uma questão séria, a inclusão de tais cenas em produções populares é vista como um passo importante para a visibilidade e a normalização de histórias LGBTQIA+ na televisão.
Contexto Histórico e Social
A chacina da Candelária, que serve como pano de fundo para a série, foi um dos episódios mais trágicos da história recente do Brasil. Na noite de 23 de janeiro de 1993, um grupo de jovens que se refugiava na Igreja da Candelária, no centro do Rio de Janeiro, foi atacado por policiais, resultando na morte de oito deles. O evento gerou indignação nacional e se tornou um símbolo das falhas do sistema de segurança pública, da desigualdade social e da violência policial que aflige o Brasil até os dias de hoje.
Os Quatro da Candelária não é apenas uma série sobre um evento trágico; é uma reflexão sobre as vidas que foram afetadas por esse crime e como essas experiências moldam a identidade e a luta por dignidade de cada um dos personagens. A escolha de abordar a sexualidade de forma aberta e honesta também contribui para uma narrativa mais rica e significativa, promovendo uma discussão necessária sobre amor, perda e superação.
Conclusão
Com atuações marcantes e uma narrativa que toca em questões sociais prementes, Os Quatro da Candelária promete ser mais do que uma simples série de entretenimento; é uma obra que incita a reflexão sobre a violência, a saúde mental e a busca por um lugar ao sol em uma sociedade muitas vezes hostil. O impacto que a série já está causando nas redes sociais é um sinal claro de que o público está pronto para dialogar sobre temas que, embora difíceis, são essenciais para a compreensão da realidade brasileira.

Foto: Netflix/Divulgação