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Trump congela US$ 2,2 bilhões de Harvard após universidade recusar exigências ideológicas​

Foto: Unsplash
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Instituição se recusa a eliminar programas de diversidade e a monitorar opiniões ideológicas; medida do governo Trump é vista como ataque à liberdade acadêmica

A tensão entre o governo dos Estados Unidos e instituições de ensino superior atingiu um novo ápice após o presidente Donald Trump anunciar, na última segunda-feira (14), o congelamento de US$ 2,2 bilhões destinados à Universidade de Harvard. A decisão ocorre em resposta à recusa da universidade em cumprir uma série de exigências que o governo vinha impondo sob a justificativa de “combate ao antissemitismo e à radicalização ideológica” dentro dos campi.

Entre os principais pontos exigidos pela administração Trump estavam: o desmonte de programas de diversidade e inclusão; auditorias ideológicas para detectar “tendências antiamericanas”; e novas diretrizes para restringir protestos, especialmente relacionados à guerra em Gaza. Segundo o Departamento de Educação, as exigências visam garantir que o financiamento público não seja usado para “alimentar o ódio” nem para “promover doutrinação ideológica”.

Contudo, para a comunidade acadêmica, especialistas em direitos civis e lideranças educacionais, o gesto é amplamente interpretado como uma tentativa de intimidação e um ataque direto à liberdade de expressão e à autonomia universitária.

Reação firme de Harvard

A resposta da universidade foi imediata e firme. Em carta aberta publicada no portal oficial da instituição, o presidente interino Alan Garber declarou que “Harvard não comprometerá sua missão educacional nem seus valores fundamentais diante de pressões políticas”. Garber ainda apontou que as medidas solicitadas violam a Primeira Emenda da Constituição dos Estados Unidos, que garante a liberdade de expressão e o livre pensamento, bases essenciais do meio acadêmico.

“Acreditamos que uma universidade livre deve ser um espaço de debate aberto e crítico, onde diversas ideias possam ser confrontadas e avaliadas de forma democrática. Ceder a exigências que buscam restringir essas possibilidades seria trair os princípios que fundamentam não só Harvard, mas todas as instituições que zelam pela integridade intelectual”, escreveu Garber.

Repercussão nacional e internacional

A atitude do governo Trump rapidamente provocou reações em outros setores da sociedade. O ex-presidente Barack Obama publicou uma nota elogiando a postura de Harvard, classificando-a como “um exemplo de coragem e responsabilidade institucional”. Líderes de outras universidades, como Yale, Princeton, Columbia e o MIT, também manifestaram apoio à decisão da instituição.

Para a presidente da Associação Americana de Professores Universitários (AAUP), Irene Mulvey, “o que está em jogo não é apenas o financiamento de uma universidade, mas a essência do ensino superior em uma sociedade democrática”. Ela enfatizou que permitir a ingerência do governo na administração ideológica das universidades representa um precedente perigoso para o país.

Na imprensa internacional, o caso ganhou grande repercussão. O The Guardian publicou um editorial classificando o congelamento de fundos como “uma escalada autoritária” e questionou a legalidade da medida, considerando os princípios constitucionais dos Estados Unidos. Já o Le Monde, da França, destacou que o episódio evidencia “a crescente politização do sistema educacional norte-americano”.

Impactos financeiros e estratégias de contenção

Embora Harvard possua um dos maiores fundos patrimoniais do mundo — estimado em aproximadamente US$ 53 bilhões —, os cortes representam uma ameaça significativa a diversos programas de pesquisa, bolsas de estudo e projetos interdisciplinares financiados com verbas federais.

Para mitigar os danos, a universidade já articula com grandes bancos e investidores de Wall Street a obtenção de US$ 750 milhões em financiamentos emergenciais. Segundo fontes internas, as áreas mais afetadas inicialmente serão as que dependem diretamente de subsídios federais, como ciência de dados, ciências ambientais e políticas públicas.

Ainda assim, Garber reiterou que não haverá cortes nos programas de inclusão e diversidade. “Nossas comunidades historicamente marginalizadas não pagarão o preço de uma decisão política. Ao contrário, reforçaremos nosso compromisso com elas”, garantiu o presidente.

Próximos passos

A universidade deve levar o caso à Justiça, alegando inconstitucionalidade na conduta do Executivo. Especialistas acreditam que o processo pode se arrastar por meses e inclusive tornar-se pauta relevante nas eleições presidenciais de 2025, dada a polarização política em torno do ensino superior.

Com a crescente tensão entre o governo federal e as universidades, o episódio marca um divisor de águas na relação entre autonomia acadêmica e interesses ideológicos de Estado. A atitude de Harvard pode encorajar outras instituições a adotarem uma postura mais firme frente à crescente pressão política, reafirmando o papel das universidades como guardiãs da liberdade intelectual e dos valores democráticos.